Apresentação
do Evento
O Grupo de Estudos Siruiz – Comunicação e Produção Literária nasce em 2017, no marco da reorganização da linha de pesquisa Imagem, Estética e Cultura Contemporânea, do Programa de Pós-Graduação em Comunicação (PPG-FAC), da Universidade de Brasília (UnB), com o objetivo de investigar as aparições e contribuições de poetas e escritores no campo das teorias, estéticas e imaginários da comunicação. Desde o início, o grupo priorizou o desenvolvimento de pesquisas acerca das conexões poéticas, estéticas e biográficas de João Guimarães Rosa com o campo comunicacional. A dinâmica do grupo envolve, além da apresentação formal de resultados em eventos e publicações da área, uma escuta mútua e cuidadosa, para a qual é imprescindível tempo. O I Colóquio Siruiz – Comunicação e produção literária pretende criar um ambiente para que nove pesquisadores do núcleo possam compartilhar o andamento de seus trabalhos e abrir-se à crítica e sugestão dos pares. Serão três dias de atividades intensivas, discutindo e pensando imagens, estéticas e imaginários midiáticos, artísticos e poéticos, na vida e na obra de João Guimarães Rosa (1908-1967). Nosso objetivo é pensar e investigar os problemas advindos da relação entre Comunicação e Literatura nos estudos rosianos.
Abertura e Primeiro dia
ABERTURA:
Gustavo de Castro (UnB): “Perfil biográfico JGR (1908-1937) – Infância e juventude”
MESA 1 — TEATRO, CORPO E DESIGN
Ana Saggese: “Adaptações realizadas a partir da obra de JGR para o teatro”
Rhaysa Novakoski: “Pensamento gráfico na obra de Guimarães Rosa”
Juliana Walczuk: “O duplo em ‘O Recado do Morro’, em Corpo de Baile”
Segundo dia
MESA 2 — ESTÉTICA DAS PERSONAGENS
Leandro Bessa: “Diadorim trans: imagens de assombro e fascínio em Grande sertão: veredas”
Andrea Jubé: “Estética do humor político em Guimarães Rosa, com destaque para Zé Bebelo”
Danielle Naves: “Vupes, um alemão no Grande Sertão” Saggese: “Dicionário de personagens de JGR”
Terceiro dia
MESA 3 — SENSO DE TRANSCENDÊNCIA
Cristina Maciel: “Os ensinamentos da escola Soto Zen em Guimarães Rosa”
Paulo Schnor: “A espiritualidade na obra de Guimarães Rosa”
CONFERÊNCIA DE ENCERRAMENTO:
Frederico Camargo (USP): “O Arquivo Guimarães Rosa – Estado da arte e perspectivas”
Participantes do Colóquio
e Resumos dos Trabalhos
Ana Saggese
Adaptações realizadas a partir da obra de JGR para o teatro
Resumo: Tentativa de compreensão dos conceitos bakhtinianos de polifonia, dialogismo e exotopia usados como ferramentas para as práticas de adaptação de obras de João Guimarães Rosa para o teatro. Posteriormente, refletir sobre algumas adaptações teatrais que vi e que me sensibilizaram.
Cristina Maciel
Os ensinamentos da escola Soto Zen na literatura de Guimarães Rosa
Resumo: Tendo como ponto de partida o posfácio do professor Riaudel para a edição francesa de O Burrinho Pedrês (2016), onde ele identifica algumas associações entre o conto de abertura de Sagarana e a história de Sidarta Gautama, farei uma releitura da travessia do burrinho para apresentar alguns dos fundamentos da escola Zen budista.
Frederico Camargo (USP)
O Arquivo Guimarães Rosa – Estado da arte e perspectivas
Resumo: Apresentação e discussão sobre o material de arquivo do autor Guimarães Rosa no Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo (IEB-USP), quais as principais categorias, classificação de documentos e possibilidades de pesquisa.
Gustavo Castro
Perfil biográfico JGR (1908-1937)
Resumo (Biografia): Estudo biográfico de João Guimarães Rosa entre 1908 e 1937, o que corresponde a infância, juventude e (primeira) fase adulta, a partir de documentos do acervo JGR/ IEB-USP e dados colhidos em entrevistas, transcrições de cartas, cadernos, diários, notícias de jornais, acontecimentos públicos, privados, profissionais e artísticos.
Dicionário de Personagens
Descrição (Dicionário): Este projeto visa elaborar um dicionário de todos os personagens de João Guimarães Rosa (1908-1967), coligidos a partir de levantamento dos contos escritos na juventude e mais Sagarana (1946), Corpo de Baile (1956), Grande sertão: veredas (1956), Primeira Estórias (1961), Tutameia (1967), Estas Estórias (1969) e Ave, Palavra (1969).
Paulo Schnor
A espiritualidade na obra de Guimarães Rosa
Resumo: Observou-se que, em Grande Sertão: Veredas, Guimarães Rosa desenvolve uma abordagem da espiritualidade brasileira na qual apresenta uma teleologia que conduz ao desenvolvimento de uma cidade ecumênica, portanto, uma realização política. No entanto, o seu fazer seria uma obra multissecular do sistema carma-reencarnação que se enquadra na estética da lentidão. Daí pretende-se investigar se a contribuição de Guimarães Rosa, como intérprete do Brasil, é uma leitura espiritual da formação do Brasil.
Andrea Jubé
Estética do humor político em Guimarães Rosa, com destaque para Zé Bebelo
Resumo: Trata-se de uma investigação, no campo da transdisciplinaridade, sobre a opção de Guimarães Rosa pela estética do humor para compor personagens inspirados nos coronéis políticos da República Velha e, dessa forma, fazer crítica social e política ao Brasil das décadas de 30 e 40. Um desafio é aplicar os conceitos de sátira e ironia à literatura rosiana. Há um destaque para Zé Bebelo, pela complexidade e relevância do personagem de Grande Sertão: Veredas.
Danielle Naves
Vupes, um alemão no Grande Sertão
Resumo: Oralidade, poética do nome próprio, memória auditiva e dialética do pátrio-estrangeiro são os tópicos que nesta pesquisa orbitam em torno do tema Vupes, personagem de Grande Sertão: Veredas. Embora ocupando papel secundário na trama e nas memórias de Riobaldo, o alemão Vupes reúne uma ampla gama de elementos que convidam a pensar, entre outros, a relação de João Guimarães Rosa com a Alemanha e sua cultura, a xenofilia ou atração pelo estranho, o poder da voz, os encontros, a alteridade. Mais do que isso, acompanhar Vupes na trama do Grande Sertão trouxe à tona um mapa de viagem (ou metodologia de investigação) com encadeamentos surpreendentemente precisos: parte-se do espanto diante do estrangeiro, passa-se por sua particularidade cultural e chega-se ao mistério auditivo que constitui a caracterização, por fim, não mais de Vupes mas do próprio Riobaldo.
Leandro Bessa
Diadorim trans: imagens de assombro e fascínio em Grande sertão: veredas
Resumo: O romance Grande sertão: veredas, de João Guimarães Rosa, é uma história de medo e atração, assombro e fascínio. Na travessia do rio São Francisco, Riobaldo, o narrador-protagonista, passa por um ato de transformação de caráter iniciático (BOLLE, 2005). Discutiremos a personagem Diadorim enquanto o médium dessa travessia por meio de uma abordagem transgênero: Menino, vestido de boiadeiro, com imensos olhos verdes. Mediante uma postura aproximativa, identificamos em Diadorim a figura do encantamento e da repulsa, sentimentos distintos que conduzem Riobaldo ao confrontamento de sua própria sexualidade que é, por sinal, marcada pelo “regime da diferença sexual” (PRECIADO, 2020). A noção de imagem dialética (BENJAMIN, 2009) é o prisma pelo qual investigamos o embate entre as faces bela e terrível de Diadorim e que nos permitiu identificar, com a noção de travessia, elementos para uma leitura baseada num paradigma trans.
Rhaysa Novakoski
Pensamento gráfico na obra de Guimarães Rosa
Resumo: A pesquisa a ser apresentada aborda a iconografia na obra de Guimarães Rosa a partir das ilustrações de capa e da estrutura do livro rosiano. O objetivo é entender o papel desempenhado pelos traços de Poty Lazzarotto e Luís Jardim na totalidade do projeto artístico do autor, que, conforme aponta arquivos e a bibliografia, controlou ativamente a produção editorial de seus livros, se portando como uma espécie de co-criador das imagens que figuram em suas páginas. Para tanto, propõe-se tanto uma reflexão sobre a ilustração literária enquanto tradução, iluminação e interpretação quanto um entendimento do que é o livro e suas partes, com enfoque nos espaços limiares dessa estrutura.
Organização
Grupo de Estudos Siruiz (CNPq/UnB)
Programa em Pós-Graduação em Comunicação (PPG-FAC)
Universidade de Brasília (UnB)